facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

Ana Beatriz Magno, Alexandre Medeiros e André Hippertt
Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

 

Enfrentar a pandemia é viver no desterro de um Brasil sem rumo. É uma espécie de exílio que nos aparta da vida real, da lida de carne e osso, e nos joga num continente de medo e horror. Professores e alunos da UFRJ estão desterrados desde 16 de março do ano passado, quando a universidade suspendeu as aulas presenciais e a terra do conhecimento se transformou num exaustivo mosaico virtual e luminoso que se acende a cada aula, a cada reunião, a cada telejornal com os números e notícias da tragédia brasileira.

Incansáveis, professores e alunos da maior universidade do Brasil se desdobram para transformar a angústia em compromisso e Ciência. Nos últimos 12 meses, centenas de docentes, estudantes e técnicos aceleraram pesquisas para ajudar no combate ao coronavírus, produziram milhares de litros de álcool em gel, criaram um sistema ágil de testagem e teceram uma potente rede de solidariedade interna e externa.

“A gente sente uma responsabilidade de fazer tudo o melhor e o mais rápido possível para contribuir no enfrentamento da pandemia, com a consciência de que não podemos parar”, conta a professora Leda Castilho, do Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares da Coppe, uma das responsáveis pela pesquisa do soro anti-covid, feito com base em plasma equino, notícia alvissareira  no tratamento da doença.  “Nos últimos 12 meses, o único dia em que não trabalhei foi em 1º de janeiro”.
Em respeito ao compromisso dos 4.198 professores, 9.200 técnicos e 65 mil alunos da UFRJ com a Ciência, a Educação e a Cultura, o Jornal da AdUFRJ preparou uma edição especial sobre os desafios impostos à comunidade acadêmica desde março de 2020. São 18 páginas, intercaladas com vigorosos depoimentos de professores e ilustradas com desenhos de alunos do 5º ano do Colégio de Aplicação. Também recuperamos os principais fatos ocorridos no país e na UFRJ no último ano, homenageamos os mortos, celebramos a esperança estampada no rosto de cada um dos vacinados e reverenciamos o trabalho dos profissionais que estão salvando vidas nos hospitais da universidade.

“Sabemos da pressão no sistema de saúde. Entramos na guerra porque sabíamos que a guerra chegaria até nós, mas também por entender o nosso papel social”, conta Rosana Lopes Cardoso, diretora médica adjunta do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. “O papel do hospital público é atender a população”.
Com quase 3 mil mortes diárias e com uma cobertura vacinal ainda pífia, o Brasil entra no 13º mês de pandemia com o quarto ministro da saúde, e cada vez mais exige uma agenda firme de resistência ao genocida de plantão. “A pandemia nos tirou da rua e nos jogou em um arremedo de vida, uma vida virtual. A pandemia exigiu fortalecer as novas formas de luta e sindicalismo que defendemos desde 2015 na AdUFRJ”, resume a presidente do sindicato, professora Eleonora Ziller. “Não vamos desistir”.

Como ensinam as crianças em seus desenhos — espécie de oásis de delicadeza em tempos de brutalidade —, a vitória da esperança sobre a dor também depende de cada um de nós, de nossa empatia, resiliência, do uso de máscara, do distanciamento social e da valorização da Ciência, temas tão caros para a comunidade da UFRJ.
“A UFRJ suspendeu as atividades presenciais não essenciais para proteger o corpo social e ajudar a diminuir a transmissão da covid-19”, explica a reitora, professora Denise Pires de Carvalho, primeira mulher a ocupar a reitoria, e que jamais imaginou passar mais da metade de seu mandato numa universidade desterrada de si mesma. “Os números estão muito graves. Não há como voltar agora. Temos de ter responsabilidade e reafirmar a importância da Ciência. Essa é a forma de construir a verdadeira sociedade do conhecimento, formada por pessoas com mais empatia e respeito ao outro e ao meio ambiente”.

Respeito e empatia traduzem a história do professor emérito da Letras, Edwaldo Cafezeiro, que, aos 90 anos de idade, comemora com a alegria de menino suas duas doses de imunização. “Me vacinei. Me senti muito bem, aliviado. Eu recomendo que todas as pessoas tomem a vacina para que tenhamos segurança e para que essa doença acabe logo”. Com o mesmo espírito de Cafezeiro, desejamos saúde, vacina já e boa leitura.

Topo