facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2021 01 08 at 10.54.13Mais um trabalho pioneiro sai dos laboratórios da UFRJ. Desta vez, envolvendo transportadores de fosfato e células tumorais. Pesquisadores da universidade, ligados ao Laboratório de Bioquímica Celular, do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBqM), descobriram que altas concentrações dessas proteínas no sangue podem contribuir para aumentar a velocidade de desenvolvimento de um câncer e sua posterior metástase.
Os experimentos foram realizados com células normais e tumorais de mama, em laboratório. E apontam para um futuro promissor. Além de ajudar a entender o mecanismo que pode estar por trás do surgimento de tumores, também indicam a possibilidade de novos tratamentos e até um diagnóstico ainda mais precoce, logo nos primeiros momentos da instalação de um câncer ou, quem sabe, antes que ele aconteça. “Ainda são necessários outros estudos para se chegar a este patamar, mas são possibilidades que se abrem para o futuro”, admite o professor titular do IBqM José Roberto Meyer, coordenador do estudo. “Ciência precisa de investigação”, ele afirma.
O docente, que faz parte da lista dos cientistas mais influentes do mundo – publicada pela revista Plos Biology e replicada pelo Jornal da AdUFRJ, em dezembro –, explica que já estudava os transportadores de fosfato em protozoários e que a ideia de investigá-los em células de câncer surgiu quando ele percebeu que não havia estudos mais aprofundados nessa área. “Nunca foi dada muita ênfase aos transportadores de fosfato em células tumorais, mas o fosfato é fundamental para qualquer célula”, aponta. “Ora, se as células normais já necessitam desse nutriente para gerarem energia, nossa teoria era de que células tumorais precisariam de muito mais fosfato, já que demandam muito mais energia por conta de sua alta capacidade de multiplicação”, explica.
A hipótese se confirmou. Em 2018, eles publicaram o primeiro trabalho, depois de três anos de investigação, na revista Plos One. Foi a primeira caracterização bioquímica dos transportadores de fosfato dependentes de sódio em células cancerígenas da literatura. “Percebemos que a célula tumoral de mama tinha muito mais transportadores de fosfato do que células de mama normais”.
Em 2019, um novo trabalho foi publicado, desta vez caracterizando outro grupo de transportadores de fosfato que não dependem de sódio, mas de prótons. Novamente, eles foram os primeiros a fazer este estudo no mundo. “Investigamos um mecanismo potencialmente importante para explicar por que células normais se transformam em tumorais”. Mas ele alerta que não se pode reduzir a tumorigênese, ou seja, a origem de um tumor, à quantidade de fosfato no sangue. “Ainda há alguns resultados que precisam ser relacionados para que a gente possa ter certeza dessa afirmação”.
No final do ano passado, outro artigo, desta vez publicado no International Journal of Molecular Sciences, trouxe mais avanços às descobertas. “Comprovamos que o transportador de fosfato protodependente tem papel crucial no desenvolvimento do câncer. E buscamos trabalhar com inibidores de fosfato inorgânico para avaliar se haveria diminuição da velocidade da propagação do tumor”, revela o doutorando Marco Antonio Lacerda Abreu, primeiro autor dos últimos trabalhos publicados pelo grupo.
As drogas PFA (ácido fosfonofórmico, utilizado em tratamentos de infecções por herpesvírus e citomegalovírus) e PAA (ácido fosfonoacético), além de inibirem as proteínas transportadoras de fosfato, tiveram repercussão no câncer. “O experimento deixou bem claro o papel dos transportadores no processo tumorigênico já que, ao inibí-los, observamos o câncer diminuir sua velocidade de propagação e regredir a um estágio menos invasivo”, afirma Marco Antonio.
A pós-doutoranda Thais Russo Abrahão Barcellos, primeira autora do trabalho divulgado em 2018 e coautora das demais publicações do grupo, reforça a descoberta. “Esses inibidores também dificultaram ou impediram os processos de metástase nas células cancerígenas. É claro que não podemos usar um inibidor que mate as células saudáveis, por isso é difícil encontrar drogas que façam esse trabalho afetando somente esses transportadores que vão alimentar o tumor”.
A jovem cientista enfatiza a importância da pesquisa básica. “É ela que dá os fundamentos para as pesquisas que serão realizadas depois, como o desenvolvimento de novos tratamentos ou novos medicamentos”, diz. “Não necessariamente a gente vai descobrir a cura do câncer, mas a gente pavimenta o terreno para que outros descubram”, orgulha-se.
Agora, os pesquisadores estudam as moléculas sinalizadoras, que indicam para o metabolismo celular que caminho deve ser seguido a partir de diferentes níveis de fosfato. Ou seja, de que forma essas células vão se comportar. Algo que pode indicar com mais precisão a razão pela qual uma célula saudável pode se tornar um câncer. “Estamos fazendo essas correlações”, diz o professor Meyer, que orienta Marco e Thais nas pesquisas. “Esta etapa nos trará novas respostas, mas já é tema para outro trabalho”, finaliza Thais.

Estamos ansiosos.

PERFIL

WhatsApp Image 2021 01 08 at 10.54.49José Roberto Meyer Fernandes
59 anos

Professor titular do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis

Coordenador do trabalho
Chefe do Laboratório de Bioquímica Celular do IbqM

Graduação em Ciências Biológicas, mestrado e doutorado em Biofísica pela UFRJ, pós-doutorado na University of Arizona

Pesquisador Nível 1B do CNPq

WhatsApp Image 2021 01 08 at 10.54.53Marco Antonio Lacerda Abreu
27 anos

1º autor dos últimos trabalhos e orientando do professor José Roberto Meyer Fernandes

Graduação em Ciências Biológicas, com ênfase em Biotecnologia pela UFRJ (Campus Duque de Caxias), mestrado e doutorado (em andamento), em Química Biológica pelo IbqM

WhatsApp Image 2021 01 08 at 10.54.54Thais Russo Abrahão Barcellos
34 anos

1ª autora dos primeiros trabalhos da série e coautora dos mais recentes, orientanda do professor José Roberto Meyer Fernandes

Graduação em Ciências Biológicas, mestrado em Química Biológica e doutorado em Ciências Biológicas — Microbiologia pela UFRJ.

Atualmente faz seu pós-doutorado no Laboratório de Bioquímica Celular do IBqM

 

Topo