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WhatsApp Image 2020 10 16 at 16.55.53Ensinar e reinventar o ensino nas salas de aula presenciais e virtuais. Pesquisar com excelência apesar das dificuldades orçamentárias. Compartilhar o conhecimento em projetos de extensão. Contribuir para a formulação de políticas públicas e assumir a gestão da universidade. Estas são algumas tarefas que, ao longo da carreira, em maior ou menor grau, fazem parte do cotidiano do professor universitário. Um profissional que hoje é atacado diuturnamente por um governo que despreza a educação e a ciência. Para enfrentar tantos desafios, os educadores brasileiros reiventam o tempo, e após uma jornada muito superior às 40 horas contratadas, ainda se desdobram no exercício da cidadania, lutam por direitos e por um mundo melhor.
“Nós estamos enfrentando uma situação de grande descrédito na ciência. Isso é um problema muito sério para o professor universitário”, afirma Celso Ferreira Ramos Filho, da Faculdade de Medicina. As palavras vêm carregadas da sabedoria de quem começou a lecionar há 46 anos.
Celso cita o livro “O Mundo Assombrado pelos Demônios: A Ciência Vista Como Uma Vela No Escuro” do astrofísico americano Carl Sagan (1934-1996) como um exemplo muito atual a ser seguido. A obra apresenta o método científico como forma de combater argumentos místicos ou pseudocientíficos. Algo que o professor observa nos recentes movimentos antivacina ou na defesa do terraplanismo.  

PESQUISA
Uma das formas de fazer o bom combate científico é com trabalho duro. O professor Fernando Duda, da Coppe, atendeu à reportagem em pleno feriado de 12 de outubro. Descansando? Não, escrevendo um artigo em colaboração com um colega que mora no Japão. “Na pesquisa, é importante ficar muito ligado no que está acontecendo, mas a gente precisa fazer as coisas acontecerem”, recomenda. “Requer muita atenção, colaboração, mas não para você ficar submisso ao que vem de fora”, ensina. “A inspiração é importante, mas é muito mais transpiração”.
Integrante do programa de Engenharia Mecânica, nota 7 na avaliação da Capes, Duda deixa claro como funciona a dedicação docente: “Temos responsabilidade com o programa, com a Coppe, com a Poli, com a UFRJ. Mas essa é responsabilidade é natural. Gosto de ensinar e pesquisar”.
     
EXTENSÃO
A professora Angela Santi, da Faculdade de Educação, enxerga na extensão uma forma  efetiva de trazer a sociedade para o lado da universidade. Ela coordena o projeto Imagem, Texto e Educação Contemporânea (ITEC), com a colega Aline Monteiro. A iniciativa articula as transformações culturais com o trabalho escolar. “Nesse momento em que a universidade está sendo colocada em questão, isso se torna estratégico”.
      
POLÍTICAS PÚBLICAS
 Em alguns casos, não basta levar o conhecimento para fora dos muros da universidade: o professor também pode sacrificar a rotina acadêmica e se doar à formulação de políticas públicas. A professora Esther Dweck, do Instituto de Economia, trabalhou no extinto Ministério do Planejamento e no Senado, entre 2011 e 2016. “A relação entre Academia e a formulação de políticas públicas é superimportante porque o timing de cada coisa é muito diferente”, relata.
Na universidade, existe um tempo maior para reflexão; no governo, as demandas imediatas praticamente impedem o estudo.  
“É uma interação de mão dupla. Para a Academia, também é bom ver as demandas práticas do dia a dia. Depois que voltei, mudei bastante minha forma de dar aula, minha agenda de pesquisa”, explica Esther. Outro fator que estimulou a empreitada da docente por Brasília foram os exemplos de referências como Maria da Conceição Tavares, ex-deputada federal, e Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, que também “mantiveram um pé na UFRJ e outro na atividade pública”.

FAMÍLIA E MILITÂNCIA
Antes da pandemia, todo professor levava trabalho para casa: leitura, produção de artigos, correção de provas. Normal. Com a pandemia, quase todo o trabalho se mudou para o ambiente doméstico — experimentos em laboratórios continuaram, principalmente na área da Saúde.
José Roberto da Silva, professor do Nupem, é casado e tem dois filhos. O adolescente é portador de necessidade especial. “Em alguns momentos, temos de intermediar a aula dele. No período normal, havia uma mediadora que participava com ele das atividades. É uma tarefa prazerosa, mas dá trabalho”.
Outra tarefa trabalhosa é a militância docente. Há 41 anos, a AdUFRJ organiza a defesa da educação pública e dos direitos dos professores da UFRJ. Sem afastamento dos afazeres acadêmicos, os diretores e militantes do movimento docente dedicam grande parte do seu tempo disponível para o bem do coletivo. “Representamos docentes (todos produtores e transmissores de  conhecimento)  que votam em diferentes partidos, acatam valores comportamentais variados etc. E mais: dedicam-se a saberes heterogêneos, adotam teorias rivais. É desafiadora a construção de uma pauta comum em meio a tanta diversidade”, afirma a professora Maria Lúcia Werneck Vianna, presidente da associação entre 2017 e 2019.

ENSINO E GESTÃO
O desafio da professora Nadir Ferreira Alves e dos colegas do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação, aprovado em 2005 no Consuni, não é incomum para muitos na UFRJ: ensinar sem a devida infraestrutura. “Sabe aquele ‘esqueleto’ ao lado da Faculdade de Letras? A promessa era que em 2012 a gente iria para aquele prédio. Estamos ‘temporariamente’ na Faculdade de Letras desde então”, afirma. “Nosso sonho é ter nosso canto”, completa.
A docente ingressou na universidade em 2011 e, desde o início, assumiu a função de coordenação da expansão do curso para a Cidade Universitária. “Hoje, estou como vice do chefe de departamento. Desde que entrei na UFRJ, me vi dividida entre a docência e a gestão”.  Mas o corpo docente é um só para o Fundão e para a Praia Vermelha. “Damos aula nos dois campi. É bastante cansativo”.
Mas todo o esforço é compensado por conquistas que não ganham tanta visibilidade. Na primeira turma da expansão, havia um aluno autista. “Fizemos um trabalho diferenciado com ele. Ele realizava prova oral, pois tinha uma memória gigantesca. Mas tinha muita dificuldade de análise na escrita”. A cada renovação de semestre, era feita uma reunião com a mãe. Com um acompanhamento cuidadoso e sem forçar muitas disciplinas por período, o aluno se formou em 2016. “Esse desafio da infraestrutura de maneira nenhuma impediu o corpo docente formar bons profissionais. Tenho muito orgulho disso”.

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