Há, no entanto, muito mais. Um dos tripés da fundação da Universidade Federal do Rio de Janeiro remonta a nosso tempo de colônia: no mesmo ano em que Tiradentes fez a sua via crúcis e foi enforcado na praça do Rossio, era aberta a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, a primeira instituição a oferecer um curso superior no Brasil. Depois de atravessar todo o período imperial e uma sequência de metamorfoses, esta é a instituição que dá origem à Escola Polytechnica ainda em 1874. O segundo apoio também acompanha um marco histórico, mas nesse caso é bem mais que uma coincidência. A transferência da corte real de Portugal para o Brasil impulsionou uma miríade de transformações na agora sede do reino, e entre as primeiras estavam a criação de duas escolas de Medicina, em Salvador e no Rio de Janeiro. A segunda, chamada Escola de Anatomia, Medicina e Cirurgia, se tornou a Faculdade de Medicina em 1832, e nos anos até a consolidação da Universidade formou boa parte da comunidade médica carioca, entre eles o gigante Carlos Chagas. O terceiro suporte é mais recente, mas de forma alguma menos importante: as duas faculdades de Direito mais antigas do Rio já são do tempo da República, e juntas formam o berço da Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, que completaria a criação da UFRJ em 1920.
Dessa história vemos que a UFRJ já nasce descentralizada, ao menos geograficamente: a Faculdade de Medicina havia sido recentemente transferida para o atual campus da Praia Vermelha, enquanto a Escola Politécnica funcionava no Largo de São Francisco. Os primeiros reitores se dividiam entre médicos e juristas, e houve uma alternância razoável até o longo mandato de Raul Leitão da Cunha, durante o Estado Novo. Logo após, em 1949, sob os auspícios do grande intelectual e político Pedro Calmon Moniz de Bittencourt, tivemos a transferência da administração para o icônico Palácio Universitário, no primeiro grande movimento físico da Universidade de Brasil. O período subsequente viu a emergência de grandes personagens relembrados até hoje em nossos prédios e monumentos: além de Pedro Calmon, tivemos os reitores (e médicos!) Deolindo Augusto de Nunes Couto, Clementino Fraga Filho, Raymundo Moniz de Aragão, entre outros. Além disso, os anos 60 viram a reforma universitária e a chegada de muitas outras instituições à já chamada Universidade Federal do Rio de Janeiro com a incorporação da “FeNeFí” – a Faculdade Nacional de Filosofia. Em paralelo a isso, tivemos o segundo (e ainda maior!) movimento físico da UFRJ, este em direção a um arquipélago ao sul da Ilha do Governador, que ao ser aterrado ganhou o nome de sua maior integrante original: a Ilha do Fundão. Muito embora já houvesse um decreto-lei estabelecendo a sua existência em 1945(!), a transferência efetiva da Universidade para lá se deu apenas nos anos 60 e 70. Hoje, a chamada Cidade Universitária concentra algo em torno de 70% da comunidade acadêmica, e é hoje o principal campus da UFRJ. Finalmente, a transição democrática dos anos 80 impulsionou uma salutar (e tardia!) ampliação do acesso à universidade, que hoje conta com quase 60 mil alunos e alunas. Da marcante presença de barões e condes nos mais altos gabinetes há 100 anos, chegamos nesses anos 20 com a nossa primeira reitora mulher. E, assim como a aristocracia passeava pelos corredores daquela recém-criada Universidade do Rio de Janeiro, hoje são magníficas as cores, gêneros e origens que passeiam por nossas salas e pátios, fruto das recentes políticas compensatórias.
Nessa edição do Jornal da AdUFRJ fazemos um tributo à história dessa que é a maior universidade federal brasileira. Nós relembramos o que era ser professor/a nos anos 20, assim como uma rememoração do Brasil tão interessante daquela época. Trazemos também docentes que comemoram os seus centenários junto com a universidade, numa grande celebração da vida e do saber. Finalmente, fechamos com um pouco da história mais moderna da UFRJ, com o seu importante papel durante a redemocratização brasileira e a organização de algo que hoje podemos chamar categoria docente.
Boa leitura e bom centenário!
Diretoria da AdUFRJ