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WEBABRE1138As mulheres ocupam 57% das vagas de graduação no país, 55% das vagas de mestrado e 54% de doutorado. Mesmo assim, no estado de São Paulo, a presença de mulheres na carreira universitária não chega a 30%. O cenário piora quando se olha para os órgãos da estrutura de políticas científicas. O CNPq nunca teve uma mulher na presidência, e 85% dos presidentes da Capes eram homens. Em 2017, os homens recebiam 74% das bolsas de produtividade mais altas. Os dados integram pesquisa da socióloga e professora da Universidade Federal do ABC (UFABC), Maria Carlotto. “A desigualdade vai aumentando ao longo da carreira acadêmica. É o que chamamos de teto de vidro”, analisou, durante o Festival do Conhecimento, em debate organizado pela AdUFRJ, dia 20.03WEB menor1138
Com o tema “A pandemia e a participação das mulheres na produção acadêmica e na vida política das universidades”,  a discussão foi mediada pela presidente do sindicato, a professora Eleonora Ziller. “Essa é uma mudança estrutural de longo prazo que temos de combinar com esse alerta permanente e a luta por espaço”,  afirmou Eleonora. “Isso está ligado a uma segregação horizontal, que é o fato de as mulheres estarem concentradas em algumas áreas muito específicas do conhecimento”,  completou Maria Carlotto.
Estudos recentes mostram que a desigualdade de gênero na estrutura de poder da academia se acentuou severamente durante a pandemia. Um desses estudos é coordenado pela professora Fernanda Staniscuaski, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que também integrou a mesa organizada pela AdUFRJ. Ela criou o Parent in Science, em 2016, uma iniciativa para discutir a maternidade dentro da academia. A ideia do grupo veio da experiência pessoal da pesquisadora, que começou a se sentir injustiçada no meio científico por ter que dedicar tempo para cuidar dos três filhos. “Toda decisão que eu tinha tomado na minha vida até aquele momento tinha levado em consideração apenas minha vida profissional. Quando decidi ter filhos, o sistema disse ‘você não está produzindo como a gente gosta, então a gente não quer mais você aqui’”, contou.03aWEB menor1138
Nos meses de abril e maio deste ano, o grupo entrevistou docentes, alunos e alunas de pós-graduação sobre as dificuldades de trabalhar durante o isolamento social. Segundo o levantamento, 70% dos homens estavam conseguindo manter a rotina de trabalho acadêmico durante a pandemia, contra apenas 50% das mulheres. Já do grupo de mulheres com filhos apenas 45% estavam conseguindo produzir, contra 65% dos homens com filhos. Se considerado o recorte racial, apenas 45% das mulheres negras estavam conseguindo trabalhar no período. “Se não fizermos nada, 2020 será o ano em que a desigualdade na Ciência será acentuada porque quem está produzindo, conseguindo cumprir prazos e concorrendo a editais de financiamento e bolsas é um grupo bem específico”, disse a pesquisadora.
03bWEB menor1138Para Maria Carlotto, que também é presidente da ADUFABC, uma das soluções seria a progressão automática para professores e professoras pelos próximos dois anos. “É impensável a gente seguir avaliando a nossa carreira como se 2020 fosse um ano normal”, explicou. Ela também defendeu que 2020 seja considerado uma exceção na avaliação dos pesquisadores para as agências de fomento. “É importante que haja um fator especial que suspenda os efeitos do ano de 2020 sobre a avaliação da Capes, sobre bolsas de produtividade, sobre o credenciamento em programas de pós-graduação. Vamos precisar de um processo de avaliação que leve em consideração o fator humano em 2020”, defendeu.
Professora da Universidade Federal do Ceará e vice-presidente da ADUFC, Irenísia Oliveira falou das dificuldades da vida sindical para as mulheres. “Como a mulher não é estimulada a ocupar esse lugar de poder, é uma ocupação que exige muita dedicação”, afirmou. “E por mais compreensiva que a família seja, ela cobra uma presença maior da mulher”. Irenísia salientou que os cursos de ciência dura deveriam ser repensados para abrir mais espaço para mulheres. “São cursos muito áridos, que dão continuidade a essa cultura de que matemática não é para mulher”. A professora voltou à questão da segregação horizontal para observar que as áreas consideradas como das mulheres são desvalorizadas. “Chegam a questionar se essas áreas são Ciência. Vai se criando uma hierarquização em vários níveis, com dualidades que não nos servem. O que vai ser atribuído à mulher é desvalorizado, o que vai ser atribuído ao homem é valorizado”, criticou.

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