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Problemas vão além do laptop e da banda larga

WEB tab4corrigidaOs números não mentem, mas omitem. Quem observa as tabelas do levantamento da reitoria pode concluir que a implantação de um sistema de aulas remotas na UFRJ é algo tecnicamente simples e quase consensual politicamente.  Ledo engano. Não há nada simples e muito menos consensual na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Os estudantes, por exemplo, aparecem nos gráficos com razoáveis condições de conexão.  Dos 17.690 alunos de graduação que responderam ao questionário,  16.098 têm banda larga. Nos alunos de pós, o percentual chega a 93%. Entre os docentes, a taxa é ainda mais elevada – 98%.
“Evidentemente que há um vício de origem nesse questionário. Foi enviado pela internet e pode-se supor que apenas quem tinha acesso respondeu”, pondera a professora Eleonora Ziller, presidente da AdUFRJ.  “Isso, no entanto, não  invalida os recados que o levantamento oferece”.
O principal recado, na opinião da diretoria da AdUFRJ, é que a UFRJ precisar incluir os excluídos antes de recomeçar as aulas. Significa que o retorno deve  levar em conta três grupos: 1. quem não tem banda larga em casa; 2. os que não responderam o questionário, caso de dois terços dos alunos; 3. os 18% de estudantes e 15 % de professores que disseram ser contra o ensino remoto.
WEB menor112904a“Não queremos aulas somente para os que concordam com ensino remoto ou apenas para quem têm boa conexão. Queremos aulas para todos. E isso é muito mais do que oferecer tecnologia. É  conhecer as condições subjetivas dos alunos durante a quarentena, se têm filhos, se dividem os aposentos e os equipamentos, se estão com condições de saúde mental e física”, resume Kemily Toledo Quiroga Leite, mestranda da Faculdade de Educação e diretora da Associação de  Pós-Graduandos, APG. “O questionário não mediu indicadores socioeconômicos relevantes. E mais grave, as entidades estudantis não foram chamadas para planejar as perguntas nem para participar do GT sobre o retorno das aulas”.
Em meados de abril, a reitoria criou o grupo de trabalho Formas Alternativas de Ensino, que logo encomendou à Superintendência de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) o levantamento sobre o acesso à internet. Apenas 14 professores participam do GT. As entidades representativas dos três segmentos foram convidadas há duas semanas. “Tinhamos que fazer algo rápido”, justifica o coordenador do GT, e vice-reitor, professor Carlos Frederico Leão Rocha. Ele reconhece limitações no questionário, mas acha que ele oferece um razoável ponto de partida para mapear carências que devem ser sanadas antes do recomeço do semestre.  “A  TIC preparou o questionário em 15 dias. É pouco tempo. Tem falhas, mas traça um quadro”,  explica o vice-reitor.  “A sociedade quer o retorno das aulas na UFRJ.  Isso não é da noite para o dia. Temos que oferecer um material consistente para subsidiar as decisões de colegiados superiores e  encontrar soluções para a redução das barreiras” .
As barreiras não existem apenas entre os estudantes. “Precisamos treinar os professores. Por mais que os docentes tenham acesso maior e melhor à tecnologia, a grande maioria não está acostumada a dar aulas remotas.  Uma aula pela internet não é igual a uma aula presencial”, explica o professor Bruno Souza de Paula, do Instituto de Física, integrante do GT e coordenador de ensino a distância da UFRJ.  “Não podemos fazer EaD. Podemos fazer aulas remotas e mesmo assim precisamos pensar como resolver as disciplinas práticas”.
WEB menor112904bOutra questão importante é o treinamento dos técnicos.  “Não há aulas apenas com professores e alunos. Os técnicos são fundamentais e estão sofrendo muito com a sobrecarga da pandemia”, pondera Joana de Angelis, diretora do Sintufrj.  “Temos que levar em conta os mais vulneráveis”, resume a diretora do DCE, Natália Borges. “Essa não é uma equação fácil. Os mais vulneráveis, por exemplo, são os formandos de baixa renda que precisam se formar logo”, pondera a presidente da AdUFRJ.  “Temos que enxergar essas nuances com calma”.

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