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DIRETORIA

As águas de março fecham o verão que não houve e abrem o semestre letivo com a esperança de que a volta às aulas amplifique nossa voz. Temperaturas muito baixas para a estação, mas para a política nacional, o termômetro subiu alguns graus após as últimas movimentações do governo e do núcleo bolsonarista. Os desaforos entreouvidos do general serviram de mote para a organização de uma nova e perigosa onda de ataques à vida democrática do país. Não estamos diante de nenhuma novidade, considerando que o atual presidente já a havia afrontado brutalmente, quando teve a ousadia de homenagear um torturador diante de um congresso que não soube, não pode, não quis responder à altura. De lá para cá, de modo ainda que combalido e insuficiente, nossas instituições tentam resistir a esse projeto autoritário, que apesar de não disfarçar seus intentos, não tem conseguido fazer a cama como gostaria. Esse é o imbróglio que estamos vivendo.

Se olharmos os últimos passos desse desgoverno durante o recesso acadêmico, veremos que a intenção posta em gestos não deixa nenhuma dúvida de que estamos diante de uma ação sistemática para corroer e estrangular o princípio mais caro e precioso da vida universitária: a autonomia. Princípio esse que ganhou forma no artigo 207, e que vem sendo atacado por todas as vias disponíveis: medidas provisórias, como a 914, que trata da eleição para o reitor, ou as malfadadas portarias para controle e restrição de viagens, chegando ao limite de tentar antecipar os efeitos das propostas de emendas constitucionais que preveem a redução salarial do servidor público através de ofícios “alertando” os reitores para os riscos do não cumprimento da “regra de ouro”.

A guerra declarada à educação e aos professores só tem paralelo aos também persistentes ataques à imprensa e aos jornalistas. Mas aqui vale o destaque especial para as jornalistas, que também têm sido alvo preferencial de impropérios e ameaças. Se voltarmos à cena inicial, aquela de 2016, quando o então deputado ousou homenagear um torturador, lembraremos que esta foi motivada pelo voto durante a sessão de votação do impeachment da presidente da República, que era uma mulher que no passado havia sido ela mesmo vítima de tortura. O gesto violento e autoritário, covarde e irresponsável, já anunciava o grau de periculosidade de que um governo como esse poderia chegar. Mas nesse nosso estranho país da cordialidade, sempre é dado a gente como ele uma certa “condescendência”, que permite que esse tipo de “bravata” caia no anedotário geral da nação, desde que permita que tudo caminhe como sempre deveria caminhar.

E o que deve caminhar? O que se espera desse governo? A reforma administrativa e tributária, o desmonte da legislação e de toda a rede de proteção ao cidadão, e o que ainda sobrevive de soberania nacional. Não é pouco o que está em jogo. E se tudo isso que está acontecendo demonstra que nosso edifício institucional é frágil, que nossas conquistas democráticas foram muito superficiais, e que nosso congresso é pouco consciente de seu papel (para dizer o mínimo), só reforça a ideia de que apesar dos descréditos e cansaços, o caminho a seguir não poderá ser outro que não o de reconstruir, reorganizar, redemocratizar o país. Não se trata de defender instituições encarquilhadas e burocratizadas, mas de refazê-las com a força das ruas, da vida e da organização da sociedade.

Por tudo isso, o 8 de março se reveste uma importância cada vez maior. A velha e carcomida sociedade patriarcal, que é a mais pura expressão da velha ordem escravocrata e colonial, insiste em não morrer. Mas nós persistiremos e demonstraremos que já não há lugar para eles nesse mundo. Marcharemos pela vida, pela democracia, pela liberdade.

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