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A universidade está sem ar. A asfixia da covid-19 se soma à asfixia do conhecimento, da ciência, da pesquisa, da educação, da arte e dos movimentos sociais. Há mais de 12 meses, as ruas estão caladas, silenciadas pela pandemia e pela escalada de mortes. Esse sufocante silêncio, no entanto, foi interrompido no final da tarde de sexta-feira passada, quando o Sintufrj iniciou uma surpreendente e vigorosa campanha nos muros, paredes e paradas do ônibus.
Com o mote “Vacina no braço, comida no prato”, a campanha gerou a fúria de apoiadores do presidente ao responsabilizá-lo pelos milhares de mortes evitáveis no Brasil.
Além de espalhar ódio e mentiras pelas redes, os seguidores do capitão ameaçaram o Sintufrj em ligações telefônicas anônimas. Ao longo da última semana, foram muitos os recados de que a sede do sindicato seria invadida e destruída.
No domingo (11) e na segunda-feira (12), houve movimentação suspeita de carros em frente ao Sintufrj. Os veículos foram abordados pela Divisão de Segurança da universidade e deixaram o campus depois que os ocupantes disseram aos vigilantes que aguardavam consulta no Hospital Universitário. A direção do sindicato registrou ocorrência e aguarda os desdobramentos da investigação. O ódio tentou intimidar, mas não conseguiu. A sanha bolsonarista encontrou uma corrente de solidariedade muito maior do que poderia imaginar.
“Quem está com uma CPI nas costas, quem está com o mundo inteiro olhando para ele e dizendo que é o principal responsável pela enorme quantidade de mortes evitáveis nessa pandemia é o presidente da República. Não são os sindicatos”, resumiu a presidente da AdUFRJ, a professora Eleonora Ziller. 

OS ATAQUES
WhatsApp Image 2021 04 16 at 19.16.35A diretoria do Sintufrj conta que a campanha foi pensada e produzida durante mais de um mês e envolveu poucas pessoas em sua execução. A ideia era surpreender a sociedade, com ações coordenadas na Praia Vermelha, Linha Vermelha e Escola de Música, pontos de grande movimentação, ao longo da sexta-feira, 9. A maior repercussão se concentrou no painel luminoso instalado na Praia Vermelha.
Os ataques começaram depois que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o deputado estadual Anderson Moraes (PSL-RJ) protestaram em suas redes sociais contra o painel. Moraes chamou a reitoria de “mafiosa” e mentiu dizendo que havia uso de dinheiro público para fazer campanha negativa do governo. Ele ainda denunciou a UFRJ à Polícia Federal. Flávio Bolsonaro, por sua vez, afirmou que a campanha constituía um crime contra seu pai. Além das injúrias por escrito, o Sintufrj recebeu ameaças terroristas de lançar bombas, invadir a sede do sindicato e até agredir os profissionais que trabalham na entidade.

A SOLIDARIEDADE
Ainda no começo da manhã de sábado, 10, a AdUFRJ condenou os ataques ao Sintufrj. “A universidade está divulgando as orientações fundamentadas em decisões científicas, nós estamos distribuindo cestas básicas, tentando melhorar a situação de toda a população no enfrentamento da covid-19”, afirma a professora Eleonora Ziller. “Quem está atrapalhando, quem está sendo julgado mundialmente pelos crimes que vem cometendo é justamente quem nos acusa. Esse é o ‘inusitado’ da situação. É uma marca do nosso tempo, que não tem paralelo na nossa tradição. É realmente um absurdo”, resume a presidente da AdUFRJ.
WhatsApp Image 2021 04 16 at 19.16.351Enquanto os bolsonaristas espalhavam ódio contra o Sintufrj, os democratas multiplicavam solidariedade ao sindicato. Desde sábado, circula uma crescente onda de apoio pelos quatro cantos do Brasil. Parlamentares, líderes de movimentos sociais e a comunidade acadêmica da UFRJ expressaram apoio à campanha.
O deputado federal Bohn Gass, do PT-RS, afirmou em sua rede social que o Rio viveu “um dia de legítimos protestos” e divulgou o vídeo da ação do sindicato. Ele terminou a publicação expressando “todo apoio ao Sintufrj”.
Alessandro Molon, deputado federal pelo PSB-RJ, compartilhou nas redes seu apoio: “Vacina no braço, comida no prato. Fora Bolsonaro! Campanha em defesa da vida e contra o governo Bolsonaro feita pelo Sintufrj”. Os deputados federais Marcelo Freixo (Psol-RJ), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Alencar Braga (PT-SP) também apoiaram a ação nas redes sociais.
Vereador carioca pelo PT, Reimont declarou “apoio e solidariedade”. “Na política do ódio, não se pode divergir. Depois de se manifestarem contra a lentidão das vacinas e o aumento da fome, os companheiros do Sintufrj estão sofrendo graves ameaças. Todo meu apoio e solidariedade. Contem comigo”.
Deputadas estaduais pelo PSOL, Renata Souza e Dani Monteiro saíram em defesa do sindicato. “A perseguição política e a censura fazem parte da estrutura de um governo que despreza a democracia. Siga forte Sintufrj, eles passarão”, disse Renata. Já Dani afirmou que “os tempos são duros, mas também são de luta. Resistimos”.
João Pedro Stédile, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), gravou um vídeo em que destaca a importância da ação. “Estamos muito comovidos a nível nacional por essa ação de agitação e propaganda tão importante e que está sendo criminalizada estupidamente pelos bolsonaristas”, disse. “Vocês têm sido a voz da classe trabalhadora”.
A AdUFRJ e o Formas – Fórum de Mobilização e Ação Solidária da UFRJ, grupo formado pelas cinco entidades representativas da universidade, também publicaram notas de apoio (veja a íntegra abaixo).
Já a Reitoria assumiu uma posição mais cautelosa. Em nota, esclareceu que a campanha não era da universidade e criticou o local de instalação do painel no campus da Praia Vermelha, o que gerou uma frustração em muitos setores que esperavam um posicionamento mais firme,   como ocorreu no CEG. No dia 14, o Conselho de Ensino de Graduação aprovou por unanimidade uma moção de apoio ao Sintufrj.

RESISTÊNCIA PARA BARRAR O ÓDIO

O que sofre agora o Sintufrj já aconteceu com a Aduferpe, seção sindical dos professores da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Depois que o sindicato instalou outdoors em Recife, no ano passado, criticando Bolsonaro, a professora Érika Suruagy foi acusada de injúria em inquérito aberto pela Polícia Federal. Ela era presidente da Aduferpe na época.
O outdoor tinha a imagem de Bolsonaro vestido de Senhor da Morte e as inscrições “Inimigo da Educação e do povo. Mais de 120.000 mortes por covid-19 no Brasil. #ForaBolsonaro”. Diante da coação à professora, entidades nacionais entraram na briga e vão apoiar a instalação de novos outdoors por toda a grande Recife e interior de Pernambuco. Já fazem parte da campanha Andes, CUT, Conlutas, CTB, UNE entre outras.

Nota AdUFRJ

Não vamos nos calar

O Brasil precisa de comida no prato e vacina no braço, como diz a chamada da campanha do SINTUFRJ. E precisa também que a CPI no Senado aponte para a sociedade brasileira quais são as autoridades responsáveis pela maior crise sanitária de nossa história. É a maior crise que já vivemos porque são mortes evitáveis. Há uma orientação mundial para o controle da pandemia que as nossas autoridades federais têm ignorado desde que tudo começou. Quantas pessoas poderiam ter sido salvas se não fossem iludidas com a divulgação e distribuição de medicamentos sem eficácia comprovada? Estamos juntos cobrando uma resposta ao povo brasileiro. Ninguém calará a universidade e suas entidades. O governo é genocida e terá que responder por isso. E não nos intimidaremos. O vídeo que foi projetado em prédios e no campus da universidade é uma manifestação legítima e não pode sofrer qualquer censura. Não foi uma ação institucional e a UFRJ não pode ser responsabilizada por isso. A única atitude que esperamos das autoridades federais é  a defesa intransigente da liberdade de expressão e do debate político, assim como o respeito ao princípio constitucional da autonomia universitária. E que a família Bolsonaro, antes de tentar nos intimidar, que responda por suas atividades suspeitas.

Nota Formas

Em defesa da vida, da democracia e dos serviços públicos: estamos juntos e não nos intimidarão!

As entidades representativas da UFRJ estão reunidas desde o início da pandemia no Fórum de Mobilização e Ação Solidária. Juntas distribuíram toneladas de alimentos a milhares de pessoas e organizaram ações de protesto e mobilizações. Afirmaram desde sempre seu compromisso com o enfrentamento da covid-19 a partir de parâmetros científicos, referendados pelas diversas instâncias da universidade. Desde os primeiros dias de suspensão das atividades presenciais, juntas enfrentaram o descaso e a política de destruição nacional do atual governo. Não se intimidaram com as granadas jogadas nos bolsos do funcionalismo, desmoralizaram ministros mentirosos e, em ação conjunta com as entidades da Educação no estado do Rio de Janeiro e em todo o país, constroem uma grande frente em defesa da educação pública brasileira.
E não será diferente agora, que pseudo guardiões da moral e dos bons costumes, com extensa e conhecida ficha criminal, tentam intimidar o Sintufrj, com ameaças e provocações. Cerramos fileiras em defesa da liberdade de expressão, do livre debate e da participação ativa e responsável do corpo social da UFRJ na luta contra o negacionismo e a mentira que vêm guiando as ações do governo federal. Bolsonaro terá que responder por suas ações e omissões.
A sociedade não pode ser refém de fakenews e desinformação. Basta de mortes evitáveis!
Estaremos todos gritando alto e bom som: Bolsonaro genocida! Vacina já: universal e gratuita! Viva o SUS! Pela volta do auxílio emergencial de 600 reais! Contra a reforma administrativa, em defesa do serviço público!

 

WhatsApp Image 2021 04 16 at 19.04.50A capa da edição do Jornal da AdUFRJ desta semana apresenta ilustrações assinadas pela cartunista Laerte. Num gesto importante de solidariedade e respeito à imprensa sindical, Laerte liberou a publicação de seus desenhos para todos os sindicatos não patronais. O designer da AdUFRJ. André Hippertt, adaptou o traço de Laerte, feito nos anos 1980, para a realidade da semana na UFRJ.
Laerte é uma artista nascida na capital paulista em 10 de junho de 1951. Estudou Comunicação e Música na USP, mas não chegou a se formar. Considerada uma das mais importantes cartunistas do país, colaborou para diversas revistas e jornais. Aos 69 anos, tomou esta semana a segunda dose da vacina contra a covid-19.

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