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WhatsApp Image 2021 04 10 at 12.38.132Antes da covid-19, a tuberculose era a doença infecciosa que mais matava no mundo, ceifando a vida de 1,5 milhão de pessoas por ano. “Agora, a covid-19 ocupa esse lugar, mas a tuberculose ainda mata muita gente, e o Brasil está entre os 30 países que detêm 90% do vírus mundial”, explica José Manoel Seixas, pesquisador da Coppe/UFRJ e colaborador de um projeto internacional que estuda as relações entre as duas doenças. A pesquisa é realizada no contexto de incidência da tuberculose em quatro dos cinco países que compõem o Brics, à exceção da China (Brasil, Rússia, Índia e África do Sul). No Brasil, o projeto é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e tem como objetivo final analisar as possíveis interações entre a tuberculose e a covid-19.

A principal forma de manifestação da tuberculose é a pulmonar, assim como a covid-19, que costuma atacar mais ferozmente o pulmão, objeto de estudos do grupo formado por pesquisadores dos cinco países do Brics. “Uma questão é a propensão à combinação das doenças. Um portador da tuberculose latente, que está infectado mas não desenvolve a doença, pode desenvolvê-la com a covid-19. Ou quem teve covid-19, pode pegar mais fácil a tuberculose”, afirma o pesquisador.

Seixas atua há 20 anos no Centro de Pesquisa em Tuberculose, ligado ao Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, e nesse projeto desenvolveu modelos de inteligência artificial para facilitar o diagnóstico das doenças. “A inteligência artificial permite fazer um mapeamento entre as áreas, é um conhecimento que pode interagir com a área de saúde, que é prioritária no mundo”, reconhece o professor. “Nós temos uma oportunidade ímpar de agir coletivamente. Então as ações que a Coppe desenvolveu para atacar e dar ferramentas contra a covid-19 são uma oportunidade de fortalecer a ação multidisciplinar. É muito interessante”, completa.

Para Seixas, a aproximação dos países do Brics nesse tipo de estudo é promissora. “É uma vocação que a gente vinha trilhando e é muito importante pela similaridade dos países. O projeto traz fortes componentes dessa similaridade, pois Rússia, Índia e África do Sul são países em que a tuberculose possui incidência muito alta”, explica o professor.

No Brasil, Rio de Janeiro e Manaus são as capitais de maior incidência da tuberculose. Anete Trajman, pesquisadora visitante do Intituto de Medicina Social da Uerj e recém-aprovada como professora titular de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFRJ, explica porque a tuberculose é comum no bloco Brics. “São países que têm condições políticas e econômicas semelhantes, em desenvolvimento. Possuem a carga de tuberculose enorme, pois há muita pobreza e umidade, e ela acomete principalmente as pessoas pobres que vivem em condições de desnutrição, de pouca ventilação, de aglomeração”, diz a pesquisadora.

Um banco de dados de pacientes que tiveram covid-19 e tuberculose nesse período de pandemia será utilizado pelos pesquisadores. “Vamos olhar os indicadores da tuberculose, ver o impacto do isolamento social para essas pessoas. Descobrir, por exemplo, quantas pessoas que tinham tuberculose foram testadas para a doença, olhar isso em diferentes momentos, e relacionar com as medidas de distanciamento social”, explica Anete.

Outro objetivo da pesquisa é avaliar a percepção da população sobre as medidas de distanciamento social. “Queremos descobrir o que as pessoas pensam sobre a melhor forma de lidar com a pandemia. Vamos usar essas respostas e os indicadores para fazer um exercício de modelagem e projetar o que pode acontecer em diferentes cenários”, afirma a médica. Ela acredita que o principal foco do projeto é elaborar uma proposta concreta sobre como lidar com uma pandemia como a da covid-19. “Essa pandemia estava sendo esperada pelo cientistas há muito tempo, só não sabíamos que seria de coronavírus. É inacreditável como o mundo estava despreparado para uma coisa que todos nós alertamos que viria”, reflete Anete.

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