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MARIA MATOS, CASSANDRA PONTES, FLÁVIA GOMES, SULAMITA FREIRE E LETÍCIA OLIVEIRA
Professoras do Colégio de Aplicação e integrantes do Conselho de Representantes da AdUFRJ.
Texto e ilustração elaborados pelos docentes


Campanha “Diário da vida remota de professores” do CAp-UFRJ chama atenção para as condições de trabalho no ensino remoto

A cidade do Rio de Janeiro encontra-se ainda com uma alta taxa de transmissão de covid-19, com detecção de novas cepas do vírus e ainda discussões sobre WhatsApp Image 2021 02 25 at 21.47.39subnotificações dos casos. Em fevereiro, observou-se que aglomerações aconteceram em muitos locais e a vacinação precisou ser interrompida por falta de doses. Neste contexto, a educação básica tem sido pressionada a retomar suas atividades presenciais. A realidade é de um ensino cada vez mais digital e, principalmente, desigual.  Em defesa da escola pública, sindicatos e movimentos estudantis ligados à educação básica têm lutado por recursos necessários para o funcionamento das escolas em condições sanitárias adequadas e pela vacinação para todas e todos.

O Colégio de Aplicação da UFRJ (CAp) também tem se debruçado sobre essas questões, compreendendo que seu funcionamento é fundamental para crianças e jovens, especialmente aquelas(es) que vivem em situação de maior vulnerabilidade social. Desde março de 2020, quando a crise sanitária foi reconhecida no Brasil e o isolamento social se fez necessário, docentes, funcionários e a direção do CAp têm trabalhado intensamente, buscando garantir que a relação cotidiana de estudantes com a escola e os conhecimentos pudessem continuar acontecendo de forma democrática e inclusiva.

Além disso, docentes do CAp têm debatido sobre o desgaste extremo do trabalho remoto, com muitas horas diárias de dedicação sentadas (os) ao computador e a imbricação com as questões domésticas. Buscando chamar atenção da sociedade para essa realidade, o Conselho de Representantes da unidade organizou a Campanha “Diário da vida remota de professores” em 2020. A ideia foi que docentes relatassem suas vivências, alertando para as condições de trabalho. Compartilhamos neste artigo contribuições de três docentes para a campanha: Maria Lúcia Brandão, professora do setor curricular multidisciplinar, Sulamita Freire, professora do setor curricular de Artes Visuais, e Fernando Villar, do setor curricular de Matemática.

Esperamos que os textos possam nos inspirar e mostrar que é preciso lutar pela garantia da saúde e pela segurança sanitária de toda a comunidade escolar, que inclui docentes, funcionários, estudantes e suas famílias! É preciso também refletir sobre nossas condições de trabalho no ensino remoto e na perspectiva de construir possibilidades para o ensino híbrido presencial. Que a escola pública possa resistir e existir como referência social de valorização de saberes científicos e espaço de compartilhamento, solidariedade e produção de conhecimentos!

Um ano diferente

Um ano de filmes de ficção. Um ano que a gente reza para acabar, mas com medo do segundo episódio. 2021 ou 2020, parte 2?
Um ano no qual tudo me aconteceu. TUDO. Até quase morrer vítima de covid. Um ano em que eu, que só sabia recortar e colar nos meus trabalhos no laptop, tive que me virar nos 65 para dominar a tecnologia e não ser derrotada por ela.
Um ano em que amigos me surpreenderam, assim como outros me decepcionaram. Mas esses últimos descobri colegas. Eu é que usava nomenclatura errada.
Os amigos me ligavam, rezavam, em várias fés diferentes. Me mostravam o céu pela manhã e à noite, no celular, enquanto isolada num quarto de hospital. Os amigos que nem sabia serem musicais, me enviaram vídeos cantando e tocando pra mim. Os amigos me mandavam mil mensagens lindas, consoladoras, esperançosas. Os amigos queriam mandar outros médicos para me examinarem. Os amigos sofreram comigo e esses sei que sentiriam minha falta, porque simplesmente são meus amigos. Amigos de fora do Rio e do Brasil me descobriram frágil e me sacudiram.
A família? Tudo... TUDO...Tudo...TUDO. Quem eu seria sem ela? Mas disso sempre soube.
Não sou a mesma de antes da covid. Nunca mais serei. O mundo nunca mais será. Às vezes, me surpreendo com uma extrema delicadeza. Às vezes, com uma frieza desconhecida. Acho que, aos 65, aprendi, finalmente, que o mundo não é a novela das 7.
No entanto, ele ainda é lindo. Nele vivem pessoas como você, que me ajudaram a passar por tudo e terminar o ano com um alto grau de criatividade. Não é vaidade, é sensação.
Obrigada, mas não é aquele obrigado sem sal, formal, de oito letras. É um obrigada que inclua todas as letras do alfabeto com todas as palavras maravilhosas que possam existir reais ou inventadas.
 OBRIGADA!!!!!!

Maria Lúcia Brandão
Professora do setor curricular Multidisciplinar


Trabalhos docentes em atividades remotas

1. Criar links de encontros síncronos;
2. Elaborar atividades assíncronas;
3. Captar imagens instantâneas para conferir presença de estudantes;
4. Adivinhar que Rhbc2020 é o Joãozinho da Silva;
5. Adivinhar que Maria B. é o Ricardo Augusto que entrou na aula com o celular na mãe porque o computador estava com o irmão na aula da faculdade;
6. Preencher a planilha de presença de cada turma observando devidamente as traduções citadas acima;
7. Ficar sentado à frente do computador falando com a tela;
8. Descobrir tempos depois que o microfone estava fechado;
9. Descobrir que teve um pico de luz e o roteador desligou (teacher off)
10. Preencher relatórios individualizados de nota;
11. Transformar um feedback que no presencial seria “Nossa! Muito bom, fulano. Pode colorir agora?”, mas no on-line fica “Fulano, a imagem está invertida, a resolução não me permite ver os detalhes com clareza. Por favor tira uma nova fotografia em um lugar mais iluminado e com maior resolução”;
12. Gastar 2 minutos em algo que durava 3 segundos;
13. Aprender a emoção de clicar “Alt+F4” durante a atividade síncrona;
14. Reenviar o código de acesso dez vezes para a mesma pessoa que “não recebi não, professor”;
15. Ensinar como buscar uma mensagem na caixa de entrada do e-mail;
16. Ouvir “ah, professor, achei os códigos aqui. Por que você me enviou tantas vezes?”;
17. Trocar o e-mail cadastrado;
18. Trocar novamente porque “esqueci a senha professor”;
19. Trocar mais uma vez “ah, eu e minha mãe criamos esse aqui agora”;
20. Trocar novamente pelo e-mail anterior porque “lembrei a senha” e o outro “ só funciona no computador da minha mãe, mas ela está trabalhando agora”.

A lista continua*...

Fernando Villar
Professor do setor curricular de Matemática





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