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O fascínio pela arte de ensinar une Erasmo Ferreira, com décadas de bons serviços prestados à Educação, e o jovem Rodrigo Leite, que acaba de iniciar sua caminhada como docente na UFRJ.

TRADIÇÃO

Mestre de várias gerações, Erasmo Ferreira ainda guarda brilho no olhar ao falar de Ciência: “Uma trincheira para a cultura”

WhatsApp Image 2020 10 16 at 16.05.57Professor ErasmoTormento para muitos professores em tempos de pandemia, a adaptação ao ensino remoto não é um problema para Erasmo Ferreira, de 90 anos, emérito do Instituto de Física. “Já passei pelo problema de adaptação a novas tecnologias quando fiz meu doutoramento, em 1958”, lembra.
“O computador foi inventado quando eu estava fazendo meu doutoramento. Faço muita computação de primeiro nível porque esse foi meu instrumento de trabalho sempre”, explica. Erasmo foi um dos primeiros usuários do equipamento, enquanto estudava no Imperial College of Science and Technology, em Londres.
Em 1961, só havia dez físicos com doutorado no Brasil. “Estive na fase de formação dos institutos. Trabalhei muito para essa construção, para a formação de pessoal, para a ligação de comunidades científicas, procurando trazer as fronteiras científicas para todas as pessoas que trabalhavam em Física aqui”, diz. Hoje, o país forma 300 doutores em Física por ano. “Essa criação do ponto inicial até ao ponto em que os institutos são formados e funcionando bem é o meu legado”, afirma.

NA ATIVA
Após o doutorado na Inglaterra e um período na Venezuela, Erasmo se torna professor da PUC-Rio, em 1967.  O docente trabalhou 27 anos como professor na instituição privada, mas sempre acompanhando o Instituto de Física. “Participei no desenvolvimento do Fundão, puxando professores para serem contratados, participando em bancas de pós-graduação”, conta. “Até que no ano 1994, vim para o Fundão junto com 11 colegas”. Nessa época, a PUC enfrentava dificuldades financeiras para manter grandes grupos de pesquisa.
Hoje em dia, o docente de 90 anos participa das atividades acadêmicas num nível mais restrito e específico no instituto. “Nos seminários de grupo, no colóquio, que é global, ou com os estudantes que estão fazendo mestrado e doutorado na minha linha de trabalho. Participo ativamente, ouvindo e falando”, conta.  

DESPERTAR
A vocação para a pesquisa surgiu com um professor de Química do Colégio Batista, na Tijuca. “Era um catedrático da Faculdade Nacional de Filosofia, o que era uma coisa rara no ensino médio. Era Ciência pura, fundamental. Fiquei fascinado”, explica. O docente se graduou em Química Industrial pela Escola Nacional de Química, na antiga Universidade do Brasil, em 1952, e como Bacharel em Física pela Faculdade Nacional de Filosofia, em 1954.
Ouvir o mestre de tantas gerações é também fazer um passeio pela história da educação superior no país. Erasmo recorda que, apesar das dificuldades financeiras e políticas dos anos 1960, a Reforma Universitária de 1968 ajudou a estruturar a vida acadêmica. “Foi criada a carreira universitária e, principalmente, mantiveram os docentes com um salário em tempo integral. Antes, era um salário episódico de oito horas”, explica.
 
LIÇÕES DE VIDA
Para o sorridente senhor, quem está na Física e quer estar nas fronteiras do conhecimento deve se jogar de corpo e alma. “Durante esse tempo todo da minha vida profissional, ela ofereceu muitas aventuras. Tudo muito coerente e muito sólido, com altos e baixos”, comemora.
Com tanta experiência, a mensagem do mestre para os mais jovens é ter fé na Ciência. “A gente está vendo isso no Brasil, no tratamento dos problemas que a gente tem, seja na preservação do ambiente ou sobre a pandemia, a Ciência quer ser ouvida”, diz. “Preservar a Ciência como uma trincheira para a cultura e para o desenvolvimento do conhecimento é necessário. Isso é feito com trabalho. A Ciência não é feita de ideia genial, não”, conclui.

FUTURO

'Calouro’ dos docentes tem sede de saber: “Ainda tenho muito para aprender e para viver dentro da universidade”

WhatsApp Image 2020 10 16 at 16.06.011Professor RodrigoCom apenas 27 anos, Rodrigo Leite é o professor mais novo da UFRJ. “Ser o mais jovem para mim é uma boa notícia, porque significa que eu ainda tenho muito para aprender e para viver dentro da universidade”, comemora.
Rodrigo tomou posse do concurso para Professor Adjunto de Finanças do Instituto Coppead em dezembro de 2019. Passou na primeira tentativa, sem experiências prévias na instituição.  “Fiz o último vestibular da UFRJ em 2011. Fui o primeiro colocado para Ciências Contábeis. Passei em quarto na UERJ, e preferi ir para lá”, conta. Depois, realizou mestrado e doutorado na FGV em apenas quatro anos.
Questionado sobre a escolha por outras instituições, Rodrigo é categórico. “Simplesmente bolsa. Como eu estudei no Colégio Pedro II, entrava por cota de escola pública na UERJ. Todos os alunos cotistas de lá ganham bolsa e era mais perto da minha casa. Ir para a Urca era muito mais distante para mim, que morava em Bangu. E na FGV foi bolsa também”, explica o jovem docente.  
Rodrigo ingressou na UERJ em janeiro de 2011, com 17 anos. Fez a graduação dos 17 aos 20 anos, com 21 anos terminou o mestrado e aos 22 passou no concurso para professor assistente na estadual e começou o doutoramento na FGV. “É uma mistura de sorte com um tipo apressado, que eu sempre fui”, define. “A sorte é que a minha área é relativamente tranquila de concurso. Às vezes, apenas oito pessoas disputam a vaga”, diz.
Mas o jovem dá um conselho para quem resolve trilhar o caminho da Academia. “A pessoa tem que ser focada durante esse período da pós-graduação, se ela puder focar só nisso para terminar o mais rápido possível. Tem que pensar que é uma fase”, afirma.
Para ele, um grande problema da pós-graduação é que os alunos muitas vezes se sentem inseguros com o futuro. “Qualquer processo transitório dá muita ansiedade. Mas faça o seu melhor e sempre fique atento às oportunidades. Todas as oportunidades que apareceram para mim eu tomei e procurei fazer o máximo possível”, revela.
Além de ser o professor mais jovem, Rodrigo também foi eleito para o Consuni, o colegiado deliberativo máximo da UFRJ. “Eu participei dessa tomada de decisão do calendário acadêmico. Foi muito desafiador porque não era só lecionar a distância, mas também pensar em como a universidade deveria lecionar a distância”, conta.
“Não sei se eu inspiro, mas sou simplesmente uma evidência de que, com esforço, se consegue chegar a grandes objetivos. Vim de escola pública municipal, fiz a prova do Pedro II e passei, o que é um diferencial”, lembra. Mesmo com todas as dificuldades de morar no subúrbio, o professor contava com um apoio fundamental dentro de casa. “Meu pai e minha mãe sempre me deram todo o suporte que poderiam. Tivemos momento de dificuldade, mas nada chegou a me prejudicar no estudo”, explica.

EXPERIÊNCIA NA SALA DE AULA
“Não tem como gostar do ensino remoto”, opina o professor. “O ensino presencial é muito superior. Nós, seres humanos, precisamos ter o convívio social.  A distância não é o ideal para ninguém, nem professor nem aluno”, diz. Contratado no final do ano passado, Rodrigo ainda não esteve em contato com os alunos da graduação.  “A turma que eu daria na graduação foi para outra professora, porque ela dá aula no segundo semestre”, explica. Ele lecionou duas disciplinas na pós-graduação e utilizou a plataforma Zoom. “Foram muito boas, os alunos se esforçaram bastante e fiquei impressionado com a seriedade deles”, lembra.
Para Rodrigo, uma coisa interessante em ser um jovem professor é conseguir entender o que os alunos passam. “A gente consegue conversar também. É um desafio porque nós, como professores, temos que ter uma postura em sala de aula. Quando você tem a mesma idade dos estudantes, você tem que trabalhar bem essa postura para que as pessoas prestem atenção e se dediquem”, reflete.

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