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WhatsApp Image 2020 10 16 at 15.27.10Roberto LeherEm 2020, celebramos a responsabilidade dos educadores diante de uma sociedade em que a desigualdade social é infame, a universidade é lançada no teatro de operações da ‘guerra cultural’ da extrema direita e a democracia está por um fio. Parabenizar a profissão com palavras melosas não seria ético. O reconhecimento dos extraordinários logros dos docentes exige, categoricamente, uma perspectiva política.  
Nossa categoria tem realizado corajoso esclarecimento crítico sobre aspectos epidemiológicos, tecnológicos, clínicos e sociais da pandemia. Em ambientes virtuais, assumiu o compromisso de renuclear as/os estudantes para promover o acolhimento “ninguém solta a mão de ninguém” e dialogar sobre o que se passa no Brasil e no mundo. A universidade tornou-se um lugar das melhores esperanças no porvir.  
Todas as atividades descritas exigiram confrontos com o negacionismo, o irracionalismo, o autoritarismo e a lógica mortal do “darwinismo social”, em um contexto de celebração do AI-5, de ameaças de fechamento do Congresso e do STF, de mapeamento de professores antifascistas, de desqualificação da universidade, de nomeação de reitoras/es sem legitimidade, e de sufocamento orçamentário politicamente orientado das universidades, do aparato de C&T e do PNAES, promovendo apartheid no acesso aos ambientes virtuais.
Pensar politicamente o 15/10 tem consequências. A democracia admitida, de baixa intensidade, não comporta uma cultura cívica em prol de uma nação em que caibam todos os rostos humanos. Os que defendem que a educação pública deve formar cidadãos insubmissos, como exortou Condorcet, e praticam a liberdade de cátedra, são “os outros” a serem combatidos pela estética e prática do medo na autocracia vigente.
A cidadania política abrange a defesa dos direitos sociais e coerência com posturas de real solidariedade. A contrarreforma da previdência de 2003 extirpou os direitos dos novos docentes que perderam a aposentadoria integral; as mudanças na carreira em 2012 se deram às custas dos nossos colegas aposentados que, na prática, foram rebaixados na hierarquia da carreira. Após o golpe, nova “reforma” da previdência piorou as condições da aposentadoria e grande parte da Constituição está “em suspenso” com a EC 95/16. A reforma administrativa mira a estabilidade, a redução salarial, a titulação, a DE e o concurso público. Não é possível separar o cidadão do cientista e do professor: o docente terá que ter, em si, a força de sua condição cidadã.
A defesa da universidade envolve a combinação de atuação institucional com audaciosa atuação sindical. Indiferenciar a institucionalidade e a auto-organização dos docentes em seu Sindicato Nacional é um erro. A simbiose enfraquece as administrações que passam a ficar identificadas com correntes oficialistas, gerando divisões, e retira a seiva democrática do sindicato. A conivência da maioria do aparato sindical oficialista diante da contrarreforma da previdência em 2003 e do solapamento da luta pela garantia da paridade entre ativos e aposentados na nova carreira docente atesta o quão deletério pode ser o oficialismo.
A grave conjuntura exige fortalecer a autonomia do Andes-SN como condição para tecer coalizões ativas capazes de combater de modo sábio as ameaças da autocracia em curso e criar inventivas metodologias para enfrentar a maior ameaça que as nossas gerações já conheceram. E que desafios seriam mais estimulantes do que esses para celebrarmos uma categoria construtora da democracia?

Roberto Leher

Ex-reitor da UFRJ (2015-2019),
ex-presidente da AdUFRJ (1997-1999),
Professor titular da Faculdade de Educação

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