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06WEB menor1135As informações falsas no currículo de Carlos Alberto Decotelli não sobreviveram ao escrutínio público. Mas se os dados acadêmicos sobre o doutorado e o pós-doutorado eram falsos, sua experiência de 17 anos como professor da Fundação Getúlio Vargas era verdadeira – ao que parece. Mesmo assim, a instituição que até ali jamais havia questionado ou checado os dados do docente, procurou rapidamente afastar sua imagem institucional do vínculo com o professor. Em nota, alegou que ele não era do quadro e que “apenas” prestava serviço como pessoa jurídica. A postura da FGV abre uma discussão sobre a precarização do trabalho do docente, que foi facilmente descartado depois de quase duas décadas de trabalho na fundação.
“O que a FGV fez foi realmente perverso”, disse Eleonora Ziller, presidente da AdUFRJ. “Não faz diferença se ele era ou não do quadro, o fato é que ele ministrou cursos e exerceu o cargo de professor. Isso deve servir de alerta para todos nós, os vínculos precários nos transformam em peças descartáveis com muita facilidade” explicou.
Eleonora ainda alertou sobre como a situação é exemplar dentro do contexto do atual governo. “O concurso público para professor universitário é muito rigoroso na hora de analisar os currículos dos candidatos. O que o Future-se propõe é que as contratações sejam “facilitadas” através de contratos via OS, explicou. “O projeto do governo para as universidades é submetê-las cada vez mais à lógica de mercado. Um pequeno núcleo de professores com uma extensa carreira acadêmica, e uma maioria de docentes com contratos e condições de trabalho precárias. O efeito disso é a instituição ficar com as mãos livres para te descartar assim que isso for conveniente”, disse a docente.

ENTENDA O CASO
No começo da semana, depois da revelação de que o então nomeado ministro da Educação não tinha completado o doutorado (sua tese foi reprovada pela banca, conforme noticiou com exclusividade o Jornal da AdUFRJ) a Fundação Getúlio Vargas manifestou-se dizendo que Decotelli “atuou apenas nos cursos de educação continuada, nos programas de formação de executivos e não como professor de qualquer das escolas da fundação. Da mesma forma, não foi pesquisador da FGV, tampouco teve pesquisa financiada pela instituição”.
Após a publicação da nota da FGV Decotelli pediu demissão do ministério da Educação. O professor decidiu então tornar públicos os prêmios recebidos pela FGV em reconhecimento ao seu trabalho como docente da instituição. Para outros veículos Decotelli declarou que a nota da FGV “destruiu sua carreira no MEC”.
Ontem, quinta-feira, a FGV mudou de tom ao falar do professor. Segundo a instituição, dizendo que “a afirmação de que não era professor das escolas FGV se trata de simples rigor técnico”, e explicando que Decotelli era professor que lecionava apenas nos cursos de educação continuada, e “não lecionava em turmas de graduação e pós-graduação stricto sensu, o que não reduz, em absoluto, a importância de tais cursos de educação continuada”.
Procurada pela reportagem, a FGV não respondeu às perguntas feitas pelo Jornal da AdUFRJ até o fechamento desta edição.

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