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WEB menorP5Professor Samuel AraújoNem tudo precisa ser dito com verbo. A música foi a linguagem do #Sextou - Tamo Junto, no dia 24. Sob o impacto dos turbulentos pronunciamentos políticos do ex-ministro Sergio Mouro e do presidente Jair Bolsonaro sobre a vacância da pasta da Justiça e da Segurança Pública, os professores puderam fruir por algumas horas da clareira aberta pelo professor da Escola de Música, Samuel Araújo.  “As artes não são adorno ou enfeites. Elas são o caminho para uma existência solidária”, resumiu. O docente mediou o bate-papo virtual que a Adufrj tem organizado todas as sextas-feiras.
Música para acampamento passou longe do repertório escolhido. Para início de conversa, Samuel sacou um Mbira (para íntimos) ou Lamelofone (para menos chegados). Tradicional do povo Shona do Zimbábue, o instrumento fazia parte do circuito musical no Brasil colônia, sendo gradualmente substituídos por equivalentes europeus.  Sua estrutura equivale a uma placa de madeira com dentes de metal escalonados, que são tocados com os polegares e indicadores. O som triste do artefato suscitou reflexões e debates sobre melancolia e estranhamento.
“Optei por começar com uma música presente na tradição oral do Brasil, de origem africana, que foi totalmente apagada ao longo da história”, explicou Samuel. “Foi o caminho para trazer um pouco da discussão sobre violência, política e cultura”.
A noite seguiu embalada por um pouco de história da música. E Samuel deu ênfase aos primeiros esforços em afinar universidade e cultura popular. O exemplo veio ainda do Velho Continente, das composições do instrumentista John Dowland (1563-1626) na Universidade de Oxford. Depois, a conversa avançou por experiências nada corriqueiras, no Brasil, e na América Latina.
A cantora Violeta Parra esteve entre os legados celebrados. Samuel deu sua versão pessoal de “Gracias a la vida”, uma das canções latino-americanas mais regravadas mundo afora. E, destacou a estreita relação da folclorista chilena com a cultura indígena.  Sua música, gravada em 1966, virou hino de uma geração contra as ditaduras no continente, em especial, a do general Augusto Pinochet. “Aqui no Rio, as pessoas cantavam essa música nos bares depois das manifestações”, recordou Maria Paula Araujo, professora do IH e ex-diretora da Adufrj.
Cantorias, pelejas, boleros e sambas. Clássicos como Azulão - música de Jaime Ovalle e letra de Manuel Bandeira – foram executados e discutidos dentro de seus respectivos contextos e cargas emocionais.
Samuel prestou homenagens às vozes populares dos recémfalecidos Moraes Moreira e Tantinho da Mangueira (Devani Ferreira). E fechou a conta com uma parceria de João Bosco e Aldir Blanc (hoje internado): Parati. “Cada um tem a própria receita, morena, pra combater a desgraça”, diz um trecho do samba.
Para o professor da Escola de Música, diferentes fatores contribuíram para o amadurecimento da relação entre a academia e a cultura popular. Um deles é a valorização do lugar de fala. “Durante a música política da década de 1960, o que mais importava era a poesia”, justificou o professor da Escola de Música. “Mas, hoje, as interpretações e os outros aspectos do som também são considerados nas intenções da música”.

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