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WEBNASSIFFoto: João LaetUm sistema institucional desregrado nas mãos de figuras públicas sem visão de país. O resumo do cenário político atual foi feito pelo premiado jornalista Luis Nassif na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), na noite de quarta-feira (27). Nassif foi convidado a debater “as ameaças à democracia e à soberania no Brasil”.
O jornalista recapitulou os fatos mais marcantes da história recente do país. E comparou os projetos políticos e econômicos dos últimos governos. Para Nassif, após a crise de 2008, o país governado por Lula cresceu nos dois aspectos. “O Brasil que emerge vira uma subpotência com seu soft power, um articulador internacional”, argumentou. Internamente, na visão de Nassif, também existiu um empoderamento popular por meio de Conselhos e de Conferências. “Havia um modelo de democracia que estava em avanço”, disse.
Já no governo atual, há “uma mudança no eixo econômico para uma desregulamentação”. E a ausência de um projeto de país. “Esse é o ponto: acabar com exigências legais e abrir espaço para a informalidade ou para organizações criminosas”, avaliou.
Nasssif não poupou a mídia no balanço sobre o processo de transição. Para ele, desde a cobertura do caso Mensalão, a imprensa “substituiu informações por factoides”, pavimentando o terreno para as fake news que depois dominaram os novos ambientes das redes sociais e do whatsapp. “Em qualquer país civilizado, a informação é sagrada. Aqui, a imprensa passa a desorganizar a informação”, criticou. “Quando você destrói o sistema de comunicação, a democracia vai para o vinagre”, acrescentou.
A saída seria a construção de um novo pacto ampliado com o centro-direita. “Muita gente me pergunta como fazer aliança com quem apoiou o golpe. Não tem outro jeito. Se fizer autocrítica, não vai sobrar ninguém”, disse.
Cerca de duzentas pessoas acompanharam as reflexões de Nassif no auditório da ABI. A sessão, que contou com transmissão online, foi realizada pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ) e pela ABI, com apoio da AdUFRJ – entre outras entidades.
No evento, Nassif conversou com o Jornal da Adufrj. Confira a seguir.

Jornal da Adufrj - O Ministro da Educação associa as universidades ao tráfico de drogas. Como chegamos a isso?
Luis Nassif - No Brasil, houve uma cooptação do discurso da ultradireita, principalmente através da revista Veja, com a geração de factoides. Acharam que iam instrumentalizar essa direita e depois colocar de volta no pote. E a direita ganhou vida própria com as redes sociais e o whatsapp, criando seus factoides. Não tem hierarquia de conhecimento, da análise. Se um catedrático faz uma afirmação e um imbecil faz outra, as duas se equivalem.

Perto do fim do primeiro ano do atual governo, qual é o balanço da democracia no país?
Cada dia de vida do governo Bolsonaro é um dia a menos de democracia. Porque ele está se fortalecendo em cima da ambiguidade dos demais poderes. Você tem no Supremo Tribunal Federal algumas pessoas com posições corajosas: Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello. Mas, como instituição, é contaminada por interesses políticos e pessoais de ministros com menos convicção democrática. No Congresso, Bolsonaro tem condições de cooptar as pessoas. Ele é muito desastrado, não tem experiência, mas vai aprendendo com o tempo. E tem o poder da caneta. Além disso, temos a expansão dos grupos de apoio a ele: as milícias, empresas de segurança, os neopentecostais. Existe o risco claro de caminhar para o fascismo, se as instituições não se pronunciarem de forma decisiva.

Por que o senhor expressou ceticismo em relação ao movimento em curso no Chile?
Um movimento como 2013 é tudo que eles querem. Você vê as provocações que são feitas [pelo governo Bolsonaro]. Essa Garantia da Lei e da Ordem, com autorização para os militares e policiais, com excludentes de ilicitude. Tudo que querem é uma movimentação tipo Chile para justificar uma intervenção e o fim da democracia no Brasil.

Qual é o caminho então?
É preciso um grande pacto nacional que amplie, que saia das esquerdas, que fique junto aos setores democráticos que não são de esquerda. Existem esses setores democráticos. A mídia deve parar com esse jogo de tentar criar polarização entre Lula e Bolsonaro. Não existe isso: o Lula faz parte do jogo institucional, o Bolsonaro é um cara que quer destruir a democracia. O PT tem que abrir espaço, perder essa veleidade de ser o protagonista único. Os demais partidos precisam ter o bom senso de perceber que, se vier a ditadura, perdem todos.

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